12 janeiro 2007

Homenagem a um grupo de construtores da música

Nome indissociável do sucesso de projectos como Belle Chase Hotel ou Quinteto Tati, JP Simões estreou-se agora a solo com o trabalho discográfico “1970”, uma mão cheia de belas canções, servidas por uma voz inconfundível. Depois de Lisboa e do Porto, o músico estará esta noite em Coimbra, no auditório do Instituto Português da Juventude (IPJ), às 23H00, para o último de três concertos de apresentação de “1970”, que sairá para o circuito comercial a 15 de Janeiro próximo.

A solo, finalmente a solo num após Belle Chase Hotel e a par do Quinteto Tati, este “1970” é o quê? Uma homenagem às suas raízes musicais, às suas influências?
JP Simões – Sim, uma das características comuns a todas as profissões que envolvem a música é que o nosso trabalho acaba sempre por ser uma homenagem àquilo que gostamos de ouvir. Para além da originalidade, há sempre uma série de estilos de música e de ambientes que acabam por passar nos trabalhos que se fazem. Neste caso, neste meu primeiro trabalho a solo, o que aconteceu é que eu fui muito mais assumidamente trabalhar sobre as minhas grandes influências. Eu tinha há muito tempo vontade de fazer um disco mais luso-brasileiro, com uma forte referência a músicos, compositores e autores de canções que me são mais caros, como Chico Buarque de Hollanda. Mas este foi um ponto de partida, porque, de certa forma, Chico Buarque é também um compositor multiestilístico, e eu fui buscar um certo balanço onde me senti confortável para dizer aquilo que tenho a dizer. E assim este acabou por ser um disco fortemente marcado por essa homenagem à música brasileira.

E para além da música brasileira, de que já falou, nomeadamente com Chico Buarque, que outras influências tem neste seu trabalho?
São influências muito centradas nos anos 70, como no Quinteto Tati já se manifestou uma grande influência da música latino-americana. São algumas coisas claramente identificáveis e outras um pouco mais veladas. O facto é que eu conto com tudo o que contribuiu para me inspirar, para me motivar para trabalhar a música. Há muitas coisas na música brasileira que influenciam este disco, nomeadamente ao nível da produção, com a influência assumida de António Carlos Jobim. Houve um disco do Edu Lobo que me serviu de inspiração muito directa para eu fazer este “1970”. Essencialmente esta geração que nos anos 70 andava a fazer coisas de uma maneira muito brilhante. O António Carlos Jobim, o Vinicius de Moraes, o Edu Lobo, que são quase um grupo de construtores de música, que fazem parte do meu imaginário, que me influenciaram e influenciam bastante e influenciam também uma série de gente. É um pouco palavra corrente no Brasil o facto de muitos músicos viverem chateados com o Chico Buarque por ele ter deixado tão pouco por fazer no mundo da música.

É esta abrangência característica dos escritores de canções que o fascina também?
Sim é claro que me fascina, como me fascina a mensagem veiculada, com alguma melancolia. Mas sim, o fascínio é evidente.

Este é o primeiro projecto inteiramente seu, no qual assume a totalidade do processo criativo, com músicas, letras, arranjos e produção musical. Este era o momento de dar-se esta oportunidade a si próprio?
Sabe, as coisas vão acontecendo, foram acontecendo, não pelo melhor dos motivos. Quer dizer, eu não cheguei a este álbum, a solo, simplesmente pela depuração do meu próprio trabalho. Este até nem seria o meu plano. Acontece é que todos os projectos em que trabalhei anteriormente tiveram graves deficiências editoriais e promocionais que acabaram por os transformar em actos falhados e em muitas frustrações. Por exemplo, a “Ópera do Falhado”, em que eu me empenhei de forma total, foi apresentada mas o seu registo discográfico está há três anos para sair. Continuamos dependentes da boa vontade da editora, que já investiu alguns largos milhares no trabalho, mas que parece não querer rentabilizá-lo. O problema é que quando as editoras não funcionam bem prejudicam os músicos e os criadores de uma forma grave, que ficam com o seu trabalho e o seu investimento artístico e humano pendurado, hipotecado. A solução foi cortar com a editora e fazer uma outra banda com o meu amigo Sérgio Costa – o Quinteto Tati –, que começou a funcionar de outra maneira, sem tanta burocracia, sendo que, na altura, o nosso disco e a editora nasceram ao mesmo tempo. Entretanto as coisas também não correram da melhor forma, nomeadamente ao nível do agenciamento, e eu fui trabalhando neste disco a solo. Ou seja, eu vim parar aqui mais ou menos pelo fracasso do processo de trabalho que existia. E este é um assunto que se prolongou por todo este último ano e que eu estou a tentar por de parte. Trata-se um pouco de esquecer aquilo que não está feito e avançar. E se calhar isso é que importa, renovar as esperanças e levar este trabalho por um circuito normal. Porque até aqui nada tem florescido na Primavera. Com o meu agente, José Cardoso, decidimos avançar para este projecto, fomos para estúdio, a seguir vendemos o disco a uma editora e ficou o assunto arrumado.

Foi uma forma de assumir as rédeas do processo?
Eu não faço questão de andar a produzir e a realizar, preferia estar a fazer outras coisas, podia ter investido todo este trabalho no Quinteto Tati ou noutra coisa qualquer. Infelizmente não foi possível, porque há contratos e há compromissos que prendem as pessoas e o seu trabalho ás editoras e que frustram completamente este necessário trabalho em equipa. Isto não foi uma questão de proclamação de autoridade individual, teve sobretudo que ver com a necessidade de avançar para alguma coisa.

“1970” vai ser lançado quando?
O disco está concluído desde Maio, a sua saída tem sido sucessivamente adiada por questões não tenho interesse nenhum em recordar. O facto é que, desde Maio, só agora há uma data, que é 15 de Janeiro. Entretanto, o que eu tentei fazer com a editora para apaziguar um pouco o relacionamento é o seguinte: nos concertos promocionais em Lisboa, Porto e Coimbra terei algumas dezenas de exemplares do disco que as pessoas poderão comprar.

Para que público fez este “1970”? Para um público diferente dos devotos dos Belle Chase Hotel, daquele que angariou com o Quinteto Tati?
Não sei. Como sabe, o trabalho ainda não foi divulgado, vai sê-lo agora, será para o público que o quiser. Quando trabalho, eu não sei quem é o meu público alvo, não faço a mínima ideia. Bem, quer dizer, o meu público alvo sou eu, eu faço coisas que me agradam.

O disco sairá em Janeiro, mas iniciou já uma série de três concertos – em Lisboa, no Porto e em Coimbra – de apresentação. E escolheu espaços para relativamente pouco público. Interessa-lhe fazer concertos mais intimistas?
Sem dúvida. Como deve imaginar não ia tentar fazer concertos para 40 mil pessoas. É claro que existe na escolha destes três locais alguma dose de calculismo, mas como os concertos estão a ser feitos um pouco a expensas do meu agente, também optamos por salas que não implicassem grandes custos. A questão é que nós decidimos avançar para a divulgação do disco, um pouco para fazer frente à demora na sua distribuição e também para dar a algumas pessoas a possibilidade de o comprarem, ainda que seja num circuito mais ou menos fechado.

Os Belle Chase Hotel em que caminho ficaram? E o Quinteto Tati, que destino terá?
Os Belle Chase Hotel morreram um pouco de morte natural. Deixou de nos dar prazer o projecto, deixou de haver gozo no que fazíamos, quase todos avançámos por outros caminhos... Encontrámo-nos de novo nos 10 anos do grupo. Foi bom, mas acabou. Quanto ao Quinteto Tati, este meu trabalho a solo é apenas um interregno, até porque estou a trabalhar com os mesmo músicos e o projecto mantém-se com a mesma vontade de todos.

(Lídia Pereira, Diário As Beiras)

2 comentários:

outro, eu disse...

JP SIMões é o entrevistado, esta segunda-feira, 15 de Janeiro, do programa "Pessoal e... transmissível", da TSF. Passa ao fim da tarde, depois das notícias das 19h., e repete a seguir à uma da manhã. Garantem-me que a entrevista está de mais: que ele canta e toca durante o próprio programa, ao vivo. A não perder e a gravar, se possível!

Anónimo disse...

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