"O JP Simões é o Eduardo Lourenço da música popular portuguesa. Cada disco seu que se publica é uma manifestação nacional de inteligência, mesmo que a nação possa andar distraída ou ressentida, aborrecida ou esganada.
Poucas vezes um compositor e intérprete resultou numa tão brilhante capacidade musical ligada à pensante forma de desmontar as suas e as questões do mundo. Fascina-me que transforme qualquer frase em melodia, que o texto lhe obedeça nas mais inusitadas descobertas, fascina-me que use de uma honestidade desarmante, que traduza sem peneiras a mistura de que nos fazemos todos um pouco.
Pressinto que o JP Simões cria sempre em perigo, é demasiado céptico para glórias e maiores seguranças. De algum modo, isso mesmo o torna real. Podemo-nos identificar facilmente com ele como se fôssemos todos parecidos com os grandes homens.
Roma, mais uma vez, é o JP Simões como uma espécie de James Bond sem tretas. O mesmo charme, coisas de génio, a voz inteira, absolutamente internacional, cheio de línguas e muitas mulheres bonitas. Este, como todos os seus discos, mas agora de modo acentuado, é um trabalho de pura sedução. Há uma solaridade acrescida que nos faz pensar em noites de varandas largas, baías, champanhe, um cigarro, saias curtas, talvez a polícia à espreita e uma aventura típica dos que se recusam a fazer da vida uma quietude de sofá.
Este disco é terapia para o português cinzentismo, para a merklice aguda, para a gula capitalista, para o desperdício da paixão. Desmistificando decadências e confessando vícios e afectos, Roma é um certo folclore pejado de alegrias, contagiante, impossível de ser parado. É o Eduardo Lourenço a fumar a relva e a curtir muito bem curtida uma bela guitarra.
De maravilha em maravilha, caro JP."
Valter Hugo Mãe
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