15 junho 2007

JP Simões à Blitz

A propósito da atracção dos artistas portugueses pelo Brasil, a revista Blitz ouviu as opiniões de JP Simões, Maria João, Maria de Medeiros e Teresa Salgueiro. Aqui fica o naco de prosa dedicado a JP Simões:

JP Simões já cantou em francês, inglês e português com sotaque de Coimbra (alegadamente, o sotaque-norma do nosso país), mas nunca negou o capilé que lhe corria no sangue. Em 2007, após vários atrasos e contratempos, lançou o primeiro disco a solo, 1970, retrato desencantado da geração que (também) é a sua, traduz uma viagem no tempo e no espaço. «Consta que existiu 1970, mas hoje, depois de a humanidade ter passado por tanta poluição e abuso de drogas, ninguém tem a certeza do ano em que nasceu». A única versão incluída em 1970, Inquietação, foi feita para o original de José Mário Branco, mas a estreia em nome próprio de JP Simões transpira Brasil - nos arranjos, no ambiente e em Fábula Bêbada, a faixa que abre o disco e remete de imediato para Construção, o superclássico de Chico Buarque, do álbum homónimo de 1971.
«É uma música inspirada na Construção. Tem uma narrativa, um pano de fundo diferente. A personagem, aqui, não é o operário na construção - é a própria cidade», compara JP. «É uma espécie de jogo entre a cidade e a sua mitologia, em que a cidade acaba por consumir-se a si própria».
JP Simões é o homem indicado para falar de Buarque, um dos campeões neste lote de discos [nota do bloguer: álbuns de Maria João, Maria de Medeiros e Teresa Salgueiro ] (quase um terço das versões tem assinatura do músico e escritor do Rio). Além de frequentemente ser apelidado de «Chico Buarque português», o ex-Belle Chase Hotel já disputou um jogo de bola com o seu herói. «Foi um jogo organizado por uma moça que está a fazer um documentário sobre a influência de Chico Buarque nos músicos portugueses. Constituímos uma equipa e o Chico apareceu com a sua. Estivemos a jogar à chuva e peremos 1-0. Foi injusto, mas valeu», recorda. Depois de um dos concertos no Porto, JP Simões compareceu ao «beija-mão». «Como era o Chico Buarque, não me importei nada de ir para lá, só para estar ao pé dele. Chico Buarque é uma pessoa com um encanto físico e curioso, uma certa magia, e eu tenho andado tão colado ao imaginário dele durante tantos anos, que fiz questão de ir ver se ele não era um produto da minha imaginação, se existia mesmo. Ele é o mestre da canção em Português».

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